Na quarta-feira, 30 de março, existirão 169 ex-integrantes do “Big Brother Brasil”. Um número que chama atenção ao ser posto, lado a lado, ao de profissionais com carteira assinada em algumas atividades regulamentadas pelo Ministério do Trabalho: hoje, no Brasil, existem 18 geoquímicos, 34 oceanógrafos, 77 médicos homeopatas e 147 arqueólogos, entre outros ofícios. No entanto, na mesma quarta, alguém estará R$ 1,5 milhão mais rico (ou menos pobre, dependendo do ponto de vista), e não será um desses trabalhadores. Numa edição marcada pela queda da audiência — a média geral era de 27 pontos até o último domingo, enquanto no ano passado esse número chegou a 30,7 e, no “BBB 5”, a 47,2, segundo o Ibope — o “BBB 11” chega ao fim com tipos bem diferentes em busca do prêmio máximo. Até o fechamento desta edição da Revista da TV, Daniel, Diana, Maria e Wesley eram os finalistas. Um deles será eliminado hoje à noite.
Em uma análise realizada durante três anos pelo Observatório de Sinais, agência de consultoria especializada em tendências, pesquisa e estudos, foram avaliadas as experiências de ex-participantes de reality shows como o próprio “BBB”. Além disso, o chamado “Dossiê reality” ouviu 2.600 pessoas em cinco capitais do Brasil. Uma das conclusões é simples: ser ex-BBB se tornou, de fato, um ofício.
— É uma espécie de profissão. O “BBB” e os realities do mesmo tipo são mais um meio do que um fim. Os programas são tidos como uma plataforma para subir numa posterior carreira — explica o sociólogo Dario Caldas, diretor do Observatório de Sinais.
Na pesquisa, 400 universitários foram questionados se participariam de um reality show: 75% disseram que sim e que viam a chance como “benéfica” para o futuro de suas profissões. Rogério Padovan, tido como o vilão do “BBB 5”, corrobora os dados. Hoje um bem-sucedido cirurgião plástico, ele diz não se arrepender de nada.
— Para mim foi espetacular. Acredito em dois pilares na vida: capacidade e oportunidade. Fiz faculdade de Medicina e estive em um lugar que, querendo ou não, te projeta, sim. Hoje atendo muitos artistas; ex-BBBs aparecem no meu consultório, jogadores de futebol... Nunca larguei a minha carreira. A fama é boa, mas acaba — diz Doutor Gê, como ficou conhecido.
Nem todos têm essa percepção. No “BBB 10”, uma participante se destacou por sua formação: professora universitária, Elenita Rodrigues hoje diz que prefere não ter mais seu nome publicado “em qualquer matéria referente ao programa”. Em seu blog, disse que perdeu dinheiro: “Perdi credibilidade no círculo acadêmico e fui vetada em quase todas as bancas de que participava e que constituíam duas, três vezes o valor do salário que ganho agora”.
Cida Moraes, a comissária de bordo do “BBB 2”, não chega a tanto — e conta que participaria novamente da atração, se fosse preciso. Mas reconhece que, quando o momento passa, é preciso correr atrás do dinheiro de cada dia.
— Quando você sai do reality, ninguém explica o que é aquilo. Você fica com uma pseudofama e, se não constrói alguma coisa em cima, não é nada. Tem gente que fica deslumbrada, entra no ostracismo e depois cai em depressão. Deprê por causa de “BBB”? Nunca! — afirma Cida, que perdeu o posto de comissária de bordo internacional com a crise da Varig e, atualmente, comanda um quadro chamado “Cida invade” no programa “Palco popular”, no canal 14 da Net: — Hoje, preciso de um emprego fixo. Mas ainda sou muito benquista pelo público.
Para Dario Caldas, os participantes do “BBB 11” já entraram na atração preparados para criar personagens e seguir manuais de sucesso, cunhados por ex-integrantes que conseguiram se destacar.
— Quem participa desses realities sabe que chegar a um nível mais alto, como Grazi Massafera, Diego Alemão e Sabrina Sato, é muito raro. Eles não têm essa ilusão, então basta o que a categoria entrega: um baile de debutantes, uma aparição em uma festa... Não basta ser visto, o importante é ser visto e reconhecido: “passei, consegui ter acesso à carreira, sou um ex-BBB” — explica Caldas: — Temos certeza de que, por isso mesmo, eles estão indo cada vez mais preparados. Nesta edição, todos seguiram cartilhas. E isso começou com Max, no “BBB 9”.
Hoje, Grazi é reconhecida como atriz; Jean Wyllys, campeão da quinta edição, defende os direitos civis dos gays na Câmara dos Deputados; Alemão, além de empresário, segue investindo na carreira de apresentador no Multishow, assim como o artista plástico Max, que também enveredou pela televisão. Sabrina é destaque no “Pânico na TV” e Juliana Alves (“BBB 3”) acaba de sair de cena na novela “Ti-ti-ti”. Mas quem não tem ambições artísticas sabe que deve pensar no futuro.
— O que rola é aproveitar a superexposição que tivemos e tentar fazer um pé-de-meia com isso. Eu não vivo de ser ex-BBB. Continuo com a minha agência, a Foreplay. Mas é inegável que o “título” abre muitas portas — conta o publicitário Michel Turtchin, que passou pelo “BBB 10”: — Um dos meus maiores prazeres sempre foi ver e criticar TV. Graças ao “BBB”, hoje tenho uma coluna e um programa semanal em um portal na internet. Antes, tocava na noite e tinha um público bem restrito; hoje, me chamam para ser DJ em todo o país. Antes, meu Twitter @turtchin tinha 76 seguidores; hoje, estou próximo dos 90 mil.
Eliminado do “BBB 11”, o engenheiro Cristiano Naya bateu recordes: já voltou ao trabalho antes do fim da atração.
— Não caiu a ficha de que sou um ex-BBB — confessa ele: — Não sei fotografar, desfilar, interpretar. Sempre passei longe disso. Tenho muito tempo de trabalho, uma carreira bem encaminhada.
Depois de espalhar seu grito de guerra pelo Brasil — quem não lembra de “Uhu, Nova Iguaçu”? — , Fani Pacheco conseguiu surfar na onda pós-“BBB 7”. Ganhou e ainda ganha por presenças em eventos, posou para a “Playboy” e é convidada e repórter em programas de TV no Multishow, mas investe para ter a garantia de um futuro sólido.
— O “Big Brother” deu um up na minha vida financeira e um outro rumo a minha carreira. Antes, como bacharel em Direito focada em concurso público, não me sentia muito realizada. Era um trabalho burocrático demais para mim — conta.
Para ela, ser ex-BBB não é uma carreira, e sim uma “profissão temporária”:
— O pós-“BBB” me ofereceu oportunidades que eu nunca havia sonhado em experimentar. De quatro anos para cá, tudo que construí e os bens que adquiri se devem exclusivamente a minha participação no reality e a como conduzi minha “efêmera” fama. Lancei minha grife, a F. Store, pensando no futuro e, principalmente, em investir com sabedoria meu dinheiro em um negócio promissor e prazeroso.
Criticado à época do “Big Brother Brasil 8”, o psiquiatra Marcelo Arantes diz que sua vida voltou ao normal. Hoje, o Doutor Marcelo, como Pedro Bial o chamava, é “um médico comum, morador de Copacabana, que conversa com idosas simpáticas na fila do pão sobre o paredão do ‘BBB’ ou terremoto no Japão, da mesma forma”, diz ele, com uma visão bem clara do mundo após o programa.
— Existem três realidades distintas: aqueles que compreendem a transitoriedade da fama instantânea e procuram voltar à ocupação anterior o quanto antes, e que frustram-se menos; aqueles que não aceitaram a rejeição e voltam ao anonimato, criando uma falsa realidade de fama e glamour às custas da indústria de subcelebridades, com alto grau de frustração e situações de humilhação comuns; e as exceções, que se mantiveram naturalmente em evidência às custas de carisma, inteligência e surpreendente talento para algo — analisa.
fonte o globe.
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